Era uma noite
quente de ano novo e ela estava debruçada na janela, vendo os fogos de
artifício explodirem pelo céu como estralas pulsantes, na cidade que vivia
desde que nasceu. O que ela podia ter dito daquele ano que acabava? Tudo havia
mudado, amigos antigos já não se importavam mais com ela, aquele amor que ela
acreditou que seria pra sempre acabou. Definitivamente um ano pra se deixar pra
trás.
Ela estava ali
parada à janela, fazendo o que fazia no primeiro minuto de todo ano. Desejando
que esse fosse melhor que o anterior. Ela fazia isso todo ano, olhando para o
céu desde pequena, pedindo para aqueles que estavam lá em cima lhe dessem um
ano bom, um diferente, um ano melhor. Tem gente que usa roupa branca no ano
novo, tem gente que come lentilhas, uvas, pula sete ondas, e havia ela, que
tinha essa única mania de ano novo.
Naquela hora ela
estava cheia de esperança de que as coisas definitivamente seriam ótimas para
ela nos próximos 365 dias. Mas como sempre, havia aquela pequena voz doentia
dentro dela que não a deixava acreditar nisso por completo. Por que as coisas
haveriam de ser boas justamente para ela? Com tanta gente no mundo, por que a
felicidade viria justamente ela visitar? Depois de um ano como aquele era
realmente difícil ter alguma esperança, mas ela tinha. Só que a pequena voz
doentia não a deixava ser maior.
Os fogos
continuavam explodindo no céu e ela não tinha um relógio por perto para saber
se já era meia noite. Então, olhando para as nuvens esbranquiçadas por sobre o
o céu escuro e enfumaçado, ela começou sua rápida prece, dizendo
repetitivamente: "vai ser o melhor ano da minha vida, o melhor ano da
minha vida, vai dar tudo certo, tudo vai dar certo". Às vezes até fechava
os olhos. Ali sozinha no quarto escuro, o rosto iluminado apenas pelas luzes
coloridas dos fogos, seus olhos se encheram de lágrimas pois a pequena voz
doentia estava finalmente morrendo e abrindo espaço para um nova e maior
esperança.
Estouraram-se as
champagnes e abraços foram dados, junto com os votos de um feliz ano novo.
Sentada ali no sofá daquela pequena sala, observando ainda os fogos que não
cessavam, enquanto um mundo e meio estava comemorando a virada de ano nas
praias e hoteis, um pequeno milagre aconteceu. Um borboleta branca, de tamanho
nada grande, entrou pela janela e voou enlouquecida pela sala. Não se aquietava
em lugar algum até que pousou em seu joelho. A borboleta tinha asas muito
brancas, quase transparentes, transparentes como vidro. O animal ficou alo um
bom tempo parado, e foi quando ela percebeu.
Aquela borboleta
era o sinal de que ela precisava. Para saber que suas preces à janela minutos
antes seriam atendidas. Era um sinal de sorte, um sinal de beleza, um sinal de
que coisas lindas estavam por vir. A borboleta ali parada, matou imediatamente
a pequena voz doentia dentro dela e a esperança finalmente a preencheu. Foi um
segundo mágico e precioso, o momento em que você se enche de esperança e
credulidade num futuro melhor são extraordinários. Quando isso aconteceu, a
borboleta simplemente foi voou pela janela e foi embora. Já tinha cumprido seu
papel.
Justo o que procurava sobre janela de vidro. Obrigada!
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