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sábado, 25 de janeiro de 2014

A borboleta de vidro

Era uma noite quente de ano novo e ela estava debruçada na janela, vendo os fogos de artifício explodirem pelo céu como estralas pulsantes, na cidade que vivia desde que nasceu. O que ela podia ter dito daquele ano que acabava? Tudo havia mudado, amigos antigos já não se importavam mais com ela, aquele amor que ela acreditou que seria pra sempre acabou. Definitivamente um ano pra se deixar pra trás.
Ela estava ali parada à janela, fazendo o que fazia no primeiro minuto de todo ano. Desejando que esse fosse melhor que o anterior. Ela fazia isso todo ano, olhando para o céu desde pequena, pedindo para aqueles que estavam lá em cima lhe dessem um ano bom, um diferente, um ano melhor. Tem gente que usa roupa branca no ano novo, tem gente que come lentilhas, uvas, pula sete ondas, e havia ela, que tinha essa única mania de ano novo.
Naquela hora ela estava cheia de esperança de que as coisas definitivamente seriam ótimas para ela nos próximos 365 dias. Mas como sempre, havia aquela pequena voz doentia dentro dela que não a deixava acreditar nisso por completo. Por que as coisas haveriam de ser boas justamente para ela? Com tanta gente no mundo, por que a felicidade viria justamente ela visitar? Depois de um ano como aquele era realmente difícil ter alguma esperança, mas ela tinha. Só que a pequena voz doentia não a deixava ser maior.
Os fogos continuavam explodindo no céu e ela não tinha um relógio por perto para saber se já era meia noite. Então, olhando para as nuvens esbranquiçadas por sobre o o céu escuro e enfumaçado, ela começou sua rápida prece, dizendo repetitivamente: "vai ser o melhor ano da minha vida, o melhor ano da minha vida, vai dar tudo certo, tudo vai dar certo". Às vezes até fechava os olhos. Ali sozinha no quarto escuro, o rosto iluminado apenas pelas luzes coloridas dos fogos, seus olhos se encheram de lágrimas pois a pequena voz doentia estava finalmente morrendo e abrindo espaço para um nova e maior esperança.
Estouraram-se as champagnes e abraços foram dados, junto com os votos de um feliz ano novo. Sentada ali no sofá daquela pequena sala, observando ainda os fogos que não cessavam, enquanto um mundo e meio estava comemorando a virada de ano nas praias e hoteis, um pequeno milagre aconteceu. Um borboleta branca, de tamanho nada grande, entrou pela janela e voou enlouquecida pela sala. Não se aquietava em lugar algum até que pousou em seu joelho. A borboleta tinha asas muito brancas, quase transparentes, transparentes como vidro. O animal ficou alo um bom tempo parado, e foi quando ela percebeu.
Aquela borboleta era o sinal de que ela precisava. Para saber que suas preces à janela minutos antes seriam atendidas. Era um sinal de sorte, um sinal de beleza, um sinal de que coisas lindas estavam por vir. A borboleta ali parada, matou imediatamente a pequena voz doentia dentro dela e a esperança finalmente a preencheu. Foi um segundo mágico e precioso, o momento em que você se enche de esperança e credulidade num futuro melhor são extraordinários. Quando isso aconteceu, a borboleta simplemente foi voou pela janela e foi embora. Já tinha cumprido seu papel.